POLÍTICA
Advogada liga Toffoli e Gilberto Carvalho a máfia do DF
Foto: Fernando Cavalcante
PUBLICAÇÃO: 12.02.2012
Em oito horas de gravações em áudio e vídeo, Christiane
Araújo de Oliveira revela que mantinha relações íntimas com políticos e
figuras-chave da República e que o governo federal usou de sua proximidade com
a quadrilha de Durval Barbosa para conseguir material contra adversários
políticos
VEJA Online
Nascida em Maceió, em uma família humilde, Christiane Araújo
de Oliveira mudou-se para Brasília há pouco mais de dez anos com o objetivo de
se formar em Direito. Em 2007, aceitou o convite para trabalhar no governo do
Distrito Federal de um certo Durval Barbosa, delegado aposentado e corrupto
contumaz que ficaria famoso, pouco depois, ao dar publicidade às cenas
degradantes de recebimento de propina que levaram à cadeia o governador José
Roberto Arruda e arrasaram com seu círculo de apoiadores.
Sob as ordens de Durval, Christiane se transformou num
instrumento de traficâncias políticas. No ano passado, depois de VEJA mostrar a
relação promíscua entre o petismo e o delegado, Christiane foi orientada a
sumir da capital federal. Relatos detalhados de suas aventuras com poderosos,
no entanto, já estavam em poder do Ministério Público e da Polícia Federal. Na
edição que chega às bancas neste sábado, VEJA revela o teor de dois depoimentos
feitos pela jovem advogada no final de 2010.
Em oito horas de gravações em áudio e vídeo, Christiane
revelou que mantinha relações íntimas com políticos e figuras-chave da
República. Ela participava de festas de embalo, viajava em aviões oficiais,
aproveitava-se dos amigos e amantes influentes para obter favores em benefício
da quadrilha chefiada por Durval, que desviou mais de 1 bilhão de reais dos
cofres públicos. Ela também contou como o governo federal usou de sua
proximidade com essa máfia para conseguir material que incriminaria adversários
políticos.
A advogada relatou que manteve um relacionamento com o hoje
ministro do Supremo Tribunal Federal José Antonio Dias Toffoli, quando ele
ocupava cargo de advogado-geral da União no governo Lula. Os encontros, segundo
ela, ocorriam em um apartamento onde Durval armazenava caixas de dinheiro usado
para comprar políticos – e onde ele eventualmente registrava imagens dessas (e
de outras) transações.
Christiane afirma que em um dos encontros entregou a Toffoli
gravações do acervo de Durval Barbosa. A amostra, que Durval queria fazer chegar
ao governo do PT, era uma forma de demonstrar sua capacidade de deflagrar um
escândalo capaz de varrer a oposição em Brasília nas eleições de 2010. Ela
também teria voado a bordo de um jato oficial do governo, por cortesia do atual
ministro do STF, que na época era chefe da Advocacia Geral da União (AGU).
Por escrito, Dias Toffoli negou todas as acusações. “Nunca
recebi da Dra. Christiane Araújo fitas gravadas relativas ao escândalo ocorrido
no governo do Distrito Federal.” O ministro disse ainda que nunca frequentou o
apartamento citado por ela ou solicitou avião oficial para servi-la. Como chefe
da AGU, só a teria recebido uma única vez em seu gabinete, em audiência formal.
Nas gravações, Christiane relatou ainda que tem uma amizade
íntima com Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República. No
governo passado, quando Carvalho ocupava o cargo de chefe de gabinete de Lula,
ela pediu a interferência do ministro para nomear o procurador Leonardo
Bandarra como chefe do Ministério Público do Distrito Federal. O pedido foi
atendido. Bandarra, descobriu-se depois, era também um ativo membro da máfia
brasiliense – e hoje responde a cinco ações na Justiça, depois de ter sido
exonerado.
POSTADO POR RICARDO NOBLAT DO JORNAL O GLOBO