quarta-feira, 25 de janeiro de 2012


OPERAÇÃO IMPACTO

MP avalia se cabe recurso para aumentar as punições
Publicação: 25.01.2012

Maria da Guia Dantas - repórter

O Ministério Público Estadual (MPE) ainda analisará se recorrerá ou não da sentença do juiz da 4ª Vara Criminal de Natal, Raimundo Carlyle de Oliveira, que condenou 16 dos 21 réus da Operação  Impacto.  A setença foi divulgada na segunda-feira (23). Ontem, o procurador-geral do MPE, Manoel Onofre Neto, e os promotores de Defesa do Patrimônio Público  afirmaram que ainda há a possibilidade de a acusação requerer o agravamento de algumas das penas. As condenações aplicadas pelo magistrado referem-se à devolução de recursos públicos, perda de mandato, penas que variam entre cinco a sete anos e nove meses de reclusão (em alguns casos em regime semi-aberto) e multas que vão de 150 a 750 salários mínimos. "Não consideramos as condenações baixas, mas determinados comportamentos merecem um agravo na pena", destacou o promotor Afonso de Ligório, responsável pela acusação durante todo o período em que o processo tramitou na primeira instância do Poder Judiciário.
FOTO: De Aldair Dantas
Procurador-geral Manoel Onofre afirma esperar os mesmos cuidados nos tribunais superiores
Procurador-geral Manoel Onofre afirma esperar os mesmos cuidados nos 
tribunais superiores  
Ele assinalou, porém, que como ainda não se debruçou sobre a sentença prefere não se manifestar sobre recurso, inclusive no que diz respeito às cinco absolvições, entre elas do presidente da Câmara Municipal de Natal (CMN), Edivan Martins (PV), e o ex-vereador Sid Fonseca. O procurador, em companhia dos promotores do Patrimônio Público, fizeram coro à sentença proferida pelo juiz Raimundo Carlyle de Oliveira, segundo eles, justa e que retratou a veracidade dos fatos produzidos através das provas.

Ao receberem a notícia sobre a decisão final do processo, os promotores comemoravam afirmando que aquele era "um dia para se reconhecer o trabalho que o Poder Judiciário desenvolveu na condução do processo [da Operação Impacto]". Não é para menos. A pretexto de investidas das defesas dos réus, que externavam em alto som uma suposta fragilidade das provas contidas nos autos, o promotor Afonso de Ligório (que acabou assumindo a integralidade da acusação em um determinado período do trâmite, situação esta que perdurou até o final) acabou cantando vitória com a confirmação de sua tese pelo menos no que diz respeito aos casos mais emblemáticos. Ao ver do juiz ele conseguiu comprovar a culpa do dito corruptor - o empresário Ricardo Abreu; a liderança no esquema do então presidente da Câmara Municipal de Natal, Dickson Nasser (PSB), que sob a chefia do ex-vereador Emilson Medeiros teria formatado o esquema; e a implicação de parlamentares, ex-parlamentares e funcionários da CMN acusados de ligação com o crime atestado pelo magistrado.

Ontem, durante a coletiva na Procuradoria-Geral de Justiça, os promotores já falavam na expectativa que nutrem quanto à aplicabilidade, já neste caso, da lei da Ficha Limpa. "O Ministério Público espera que o STJ tenha o mesmo cuidado e responsabilidade com que foi feita justiça pelo juiz Carlyle, uma vez que a decisão tem conseqüências práticas, em razão da configuração da Ficha Limpa", enfatizou Onofre Neto. Para isso, o MPE terá que esperar por dois obstáculos capitais: o primeiro deles é o desfecho do processo que tramita no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF) e que aprecia a constitucionalidade da lei; o outro é aguardar o julgamento por um colegiado - e neste caso ficará nas mãos dos desembargadores da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça - próximo passo do processo.

Ouro Negro e Gafanhotos estão na 4ª Vara

O juiz da 4ª Vara Criminal, Raimundo Carlyle, também é o responsável por apreciar outros três processos, cujas exponenciais polêmicas podem ser julgadas ainda este ano. Uma delas é a que foi batizada de "Operação Ouro Negro" - esquema ocorrido durante o governo Fernando Freire, que tratou da concessão e manutenção de um regime especial tributário à empresa American Distribuidora de Combustível Ltda, pela Secretaria de Estado da Tributação, em 2002, provocando prejuízo ao erário de quase R$ 66 milhões. O processo está na fase de coleta de depoimentos das testemunhas de defesa. O caso envolve ainda um dos irmãos da ex-governadora Wilma de Faria (PSB), Fernando Antônio de Faria.

Além desse, o processo oriundo da conhecidamente chamada  "Máfia dos Gafanhotos" -  investigação que apura a emissão fraudulenta de cheques-salário do Governo do Estado para terceiros, também durante a gestão Fernando Freire, encontra-se em tramitação similar à anterior. O último despacho do magistrado, neste caso, realizado dia nove deste mês, determinava à Secretaria Judiciária local que remeta ao Cartório da 9ª Vara Criminal da comarca do Rio de Janeiro/RJ, onde vive o ex-governador, cópias dos documentos sobre os quais será feita a perícia grafotécnica, a fim de orientar a coleta dos padrões gráficos do mesmo.

Um terceiro processo é o da "Operação Curupira", cuja denúncia do Ministério Público, em setembro passado, acusou 28 pessoas por suspeita de envolvimento com o "comércio" de alvarás e licenças administrativas dentro da Secretaria Especial de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (Semurb). Essa suposta rede de corrupção na Semurb veio à tona no último dia 30, quando a Polícia Civil deflagrou a operação Curupira e prendeu três servidores da Secretaria. O processo está em fase inicial.

Defesa começa a avisar oficialmente sobre os recursos

As defesas dos 16 condenados da Operação Impacto vão recorrer da sentença do juiz Raimundo Carlyle, através de uma apelação à Câmara Criminal do Tribunal de Justiça (TJRN). O prazo para entrada do pedido é de cinco dias a contar da publicação da decisão do magistrado, o que ocorreu nesta segunda-feira (23). Até agora, somente o advogado Flaviano Gama, que representa o vereador Adenúbio Melo e os ex-vereadores Edson Siqueira e Salatiel de Souza, ingressou com a comunicação (a defesa apenas comunica que recorrerá, mas as razões motivadoras são entregues já na segunda instância) junto à 4ª Vara Criminal.

Os advogados Flaviano Gama e Cyro Benavides (que defende Renato Dantas) ressaltaram a tese de que "não existiu prova concreta para condenar os réus". "As provas contidas nos autos são meramente conjecturas e indícios. Dessa forma, elas não deveriam ter o poder de condenar", opinou Benavides. Flaviano adiantou que alegará algumas nulidades processuais que ao ver da defesa ocorreram. Ele também classificou as provas de "insuficientes". O advogado não quis mencionar sobre a argumentação que utilizará no recurso, mas destacou que buscará mostrar que o juiz não poderia chegar à conclusão que chegou.

A apelação que certamente todos os condenados irão ingressar junto ao TJRN suspende os efeitos da sentença de primeiro grau. Enquanto não houver o julgamento não transitar em julgado não há imposições de reclusão, perda de direitos políticos, cargos públicos, etc.

POSTADO PELA TRIBUNA DO NORTE