A copa no telhado
De Fernando Gabeira
Algumas notícias sobre a Copa do Mundo são inquietantes. Para começar, há muitas dúvidas sobre o famoso legado, sobretudo depois que a ministra Miriam Belchior anunciou o feriado como alternativa para a mobilidade urbana, nos dias de jogo.
A aprovação da Lei da Copa não satisfez à FIFA. Jornalistas que trabalham nos bastidores informam que há uma grande tensão entre o governo brasileiro e a entidade esportiva.
A FIFA quer dinheiro. Um dos problemas para ela é o fato de o Brasil não revogar, durante os jogos, o direito a meio ingresso de estudantes e idosos. O pais não pode revogar suas leis por causa de uma Copa, sobretudo quando representam direitos adquiridos, concorde-se ou não com eles.
A FIFA deveria considerar algumas coisas. A lei das licitações foi mudada por causa da Copa. O Código Florestal ganhou , no Senado,um dispositivo que permite desmatar com mais facilidade, para facilitar obras da Copa.
A legislação brasileira já mudou por causa da Copa e a FIFA ainda não está satisfeita. Ela tem até outubro para desistir de fazer a Copa no Brasil.
Esta decisão parece improvável. Mesmo porque o Brasil já gastou muito com as primeiras obras de estádios, obras que, de certa forma, mesmo com a Copa do Mundo, são excessivas.
No Rio Grande do Norte, o estádio Machadão, que será reconstruído para se chamar Arena das Dunas, foi objeto de uma pesquisa sobre frequência. O estádio nunca encheu, exceto quando o Papa visitou Natal. As obras para ampliar o numero de lugares talvez não tenha utilidade plena nem durante a Copa. Todo o dinheiro só terá sentido se o Papa nos visitar de novo. E apenas no momento de sua visita. O futebol é uma paixão, todos compreendemos. Mas alguma racionalidade é essencial: estamos entrando numa crise econômica com dimensões planetárias e, precisamente nesse período, corremos o risco de jogar dinheiro fora, aumentando as dívidas.
Tenho escrito sobre o tema e recebido algumas criticas. Os entusiastas da idéia e os que esperam tirar proveito político dela, afirmam que os críticos são negativistas e torcem contra. É outra face do problema. Para os adeptos de alguns governos democráticos e da ditadura militar, quem faz criticas é porque não acredita no Brasil e está querendo o fracasso nacional. A Copa não vai bem. E os instrumentos de controle do rumo parecem desligados. Por que não reagir enquanto há tempo? A decisão de não ceder à FIFA direitos adquiridos foi correta. É preciso avançar com as idéias que protejam o país, evitar o “depois da Copa, o dilúvio”. A Copa do Mundo no Brasil trouxe benefícios políticos para os dirigentes, nas eleições de 2010. É uma ilusão pensar que a vitória está apenas na escolha do país sede. Há muito caminho pela frente.
POSTADO NO RRH DO PUBLICITÁRIO E JORNALISTA RICARDO ROSADO HOLANDA