quarta-feira, 16 de março de 2011


TRF decidirá sobre saída de Beira-Mar


PUBLICAÇÃO: 15/03/2011
Fábio Vale 

Divulgação
Beira-Mar ainda está detido no Presídio Federal de Mossoró, mas juiz quer sua transferência

Quan­do tudo in­di­ca­va que o des­fe­cho da no­ve­la 'Caso Beira-Mar' já es­ta­ria com seu rumo de­fi­ni­do, ape­sar de estar com o des­ti­no final res­guar­da­do, o caso ga­nhou novos con­tor­nos. Agora, o des­ti­no do me­ga­tra­fi­can­te Luiz Fer­nan­do da Costa, 43, o Fernandi-nho Beira-Mar, deve ser de­ci­di­do pelo Tri­bu­nal Re­gio­nal Fe­de­ral da 5° Re­gião, em Per­nam­bu­co. Dian­te do im­pas­se entre o Mi­nis­té­rio da Jus­ti­ça e o ma­gis­tra­do Mário Jambo, Juiz Cor­re­ge­dor do Pre­sí­dio Fe­de­ral de Mos­so­ró, onde Beira-Mar está de­ti­do, a de­ci­são sobre a per­ma­nên­cia do tra­fi­can­te na uni­da­de pri­sio­nal fica à cargo do TRF que deve se po­si­cio­nar ainda esta se­ma­na sobre o caso. 

Com isso, a trans­fe­rên­cia de Fer­nan­di­nho Beira-Mar, um dos cri­mi­no­sos mais pe­ri­go­sos do país para Mos­so­ró foi clas­si­fi­ca­da como uma ques­tão de "se­gu­ran­ça na­cio­nal". E, se­gun­do re­por­ta­gem do jor­nal ca­rio­ca O Globo, o mi­nis­tro da Jus­ti­ça, José Eduar­do Car­do­zo, teve que se en­vol­ver pes­soal­men­te no caso para que o tra­fi­can­te fosse man­da­do para o Rio Gran­de do Norte. Isso por­que o juiz da 2ª Vara da Jus­ti­ça Fe­de­ral no es­ta­do, Mário Jambo, é con­trá­rio a per­ma­nên­cia de Beira-Mar na uni­da­de de Mos­so­ró. Cor­re­ge­dor da pe­ni­ten­ciá­ria, ele cobra re­for­mas no pré­dio e cri­ti­ca o ar­gu­men­to usado pelo go­ver­no para trans­fe­rir o tra­fi­can­te para a uni­da­de.

O juiz já deu des­pa­chos con­tra a pre­sen­ça de Beira-Mar no es­ta­do e está numa queda de braço com o go­ver­no fe­de­ral. A trans­fe­rên­cia do tra­fi­can­te, em fe­ve­rei­ro, se deu quan­do Jambo es­ta­va de fé­rias. Ao re­tor­nar, de­ci­diu transferi-lo e deu prazo - que não pode re­ve­lar por se­gu­ran­ça - para o go­ver­no cum­prir sua sen­ten­ça. Ainda de acor­do com in­for­ma­ções do O Globo, para ten­tar con­tor­nar a si­tua­ção, o mi­nis­tro José Eduar­do Car­do­zo ligou para Jambo há duas se­ma­nas. No diá­lo­go, de cinco mi­nu­tos, o mi­nis­tro, que afir­mou tratar-se de uma con­ver­sa in­for­mal, ten­tou con­ven­cer o juiz a man­ter Beira-Mar lá. Não con­ven­ceu.

E em en­tre­vis­ta co­le­ti­va con­ce­di­da na manhã de hoje (15) a res­pei­to da vinda de seis de­ten­tos in­cluin­do Fer­nan­di­nho Beira-Mar para o Pre­sí­dio Fe­de­ral de Mos­so­ró du­ran­te suas fé­rias, o juiz Mário Jambo rea­fir­mou a de­ci­são de pedir a saída de Beira-Mar da uni­da­de. Na oca­sião, Mário Jambo se negou a falar es­pe­ci­fi­ca­men­te sobre o tra­fi­can­te e lem­brou que desde agos­to do ano pas­sa­do o pre­sí­dio está in­ter­di­ta­do para re­ce­ber qual­quer novo de­ten­to. 

Ele con­fir­mou a de­ci­são de pedir a saída dos seis pre­sos que che­ga­ram re­cen­te­men­te e de­cla­rou ainda que ne­nhu­ma das obras so­li­ci­ta­das para a me­lho­ria da es­tru­tu­ra do pre­sí­dio foi exe­cu­ta­da. Mário Jambo afir­mou que o pre­sí­dio de Mos­so­ró é de qua­li­da­de in­fe­rior e não de se­gu­ran­ça má­xi­ma. Ele lem­brou, porém, que não é fun­ção de qual­quer pre­sí­dio aca­bar com o poder de um cri­mi­no­so, mas sim im­pe­dir que ele fuja. 

Dian­te da po­si­ção do juiz cor­re­ge­dor, o go­ver­no, então, re­cor­reu ao Tri­bu­nal Re­gio­nal Fe­de­ral em Per­nam­bu­co, para anu­lar a de­ci­são de Jambo e man­ter o tra­fi­can­te em Mos­so­ró. O TRF de­ci­diu ouvir o juiz e a de­ci­são deve sair ainda esta se­ma­na. Sendo que as de­ci­sões to­ma­das pelos Juí­zes Fe­de­rais são re­cor­rí­veis aos Tri­bu­nais Re­gio­nais Fe­de­rais, exis­ten­tes em Bra­sí­lia (1ª Re­gião), Rio de Ja­nei­ro (2ª Re­gião), São Paulo (3ª Re­gião), Porto Ale­gre (4ª Re­gião) e Re­ci­fe (5ª Re­gião), esta úl­ti­ma com­preen­den­do os Es­ta­dos de Ser­gi­pe, Ala­goas, Per­nam­bu­co, Pa­raí­ba, Rio Gran­de do Norte e Ceará. Vale lem­brar que das de­ci­sões dos TRF's, cabe re­cur­so ao Su­pe­rior Tri­bu­nal de Jus­ti­ça (STJ) ou ao Su­pre­mo Tri­bu­nal Fe­de­ral (STF), ambos com sede no Dis­tri­to Fe­de­ral.

Trans­fe­rên­cia 

Com a si­gi­lo­sa trans­fe­rên­cia do tra­fi­can­te co­lom­bia­no El Duro, ocor­ri­da no iní­cio da manhã do dia 25 do mês pas­sa­do, especula-se sobre a pos­si­bi­li­da­de que, com a interdi-ção par­cial do pre­sí­dio, tanto Beira-Mar quan­to os ou­tros cinco cri­mi­no­sos, trans­fe­ri­dos para o RN no úl­ti­mo dia 05, pos­sam ser re­mo­vi­dos a qual­quer mo­men­to da pe­ni­ten­ciá­ria para qual­quer dos ou­tros três pre­sí­dios fe­de­rais em fun­cio­na­men­to no país, lo­ca­li­za­das em Campo Gran­de (MS), Ca­tan­du­vas (PR) e Porto Velho (RO). Pois, sob os cri­té­rios de exi­gên­cia má­xi­ma e qua­li­da­de total, o juiz Mário Jambo negou no final do ano pas­sa­do a trans­fe­rên­cia de pre­sos do RJ para a uni­da­de, ale­gan­do "pro­ble­mas es­tru­tu­rais" na peni-tenciária re­la­cio­na­dos a ra­cha­du­ras e a falta de abas­te­ci­men­to de água pró­prio. 

No en­tan­to, no dia 05 de fe­ve­rei­ro deste ano, sob au­to­ri­za­ção do juiz cor­re­ge­dor substi-tuto Vi­ní­cius Costa Vidor, Beira-Mar foi trans­fe­ri­do para a uni­da­de de Mos­so­ró junto com mais cinco cri­mi­no­sos, onde estão re­co­lhi­dos à es­pe­ra do cum­pri­men­to da de­ci­são do juiz Mário Jambo que já de­ci­diu em se­gre­do de Jus­ti­ça se os seis pre­sos vão ou ficam na pe­ni­ten­ciá­ria com vista ao pe­di­do de re­con­si­de­ra­ção do Mi­nis­té­rio Pú­bli­co Fede-ral/Pro­cu­ra­do­ria da Re­pú­bli­ca (MPF/RN). En­quan­to isso, in­for­ma­ções dão conta de que a es­ta­dia de Beira-Mar na pe­ni­ten­ciá­ria está den­tro dos cri­té­rios de nor­ma­li­da­de espera-dos para uma pe­ni­ten­ciá­ria de se­gu­ran­ça má­xi­ma, onde o tra­fi­can­te segue com o com-portamento tran­qui­lo. 

"Risco máximo?"

O jor­nal ca­rio­ca O Globo trou­xe em sua edi­ção de ontem (14) uma re­por­ta­gem com o tí­tu­lo "Vul­ne­ra­bi­li­da­de de pe­ni­ten­ciá­rias fe­de­rais do país di­fi­cul­ta ações de trans­fe­rên­cia de pre­sos" que abor­da que as qua­tro pe­ni­ten­ciá­rias fe­de­rais do país não con­se­guem man­ter o tí­tu­lo de es­ta­be­le­ci­men­tos de se­gu­ran­ça má­xi­ma. A ma­té­ria cita o Pre­sí­dio Fe­de­ral de Mos­so­ró como "o prin­ci­pal exem­plo de risco pre­sen­te nes­sas uni­da­des é o pre­sí­dio de Mos­so­ró - onde jus­ta­men­te se en­con­tra hoje um dos pre­sos de mais alta pe­ri­cu­lo­si­da­de no país, o tra­fi­can­te Fer­nan­di­nho Beira-Mar. Mos­so­ró está sob risco de in­ter­di­ção, por pro­ble­mas - apon­ta­dos em re­la­tó­rio do De­par­ta­men­to Pe­ni­ten­ciá­rio Na­cio­nal (Depen), vin­cu­la­do ao Mi­nis­té­rio da Jus­ti­ça -, como ra­cha­du­ras e uso de ma­te­rial de baixa qua­li­da­de na obra".

Em con­tra­par­ti­da, o mi­nis­tro da Jus­ti­ça, José Eduar­do Car­do­zo não vê ne­ces­si­da­de de in­ter­ven­ção na uni­da­de de Mos­so­ró e con­si­de­ra o pre­sí­dio como o lugar mais se­gu­ro para man­ter o me­ga­tra­fi­can­te. A di­re­ção da uni­da­de não foi en­con­tra­da para co­men­tar o caso.

FONTE CORREIO DA TARDE  / MOSSORÓ