segunda-feira, 20 de setembro de 2010


Carol Pires

Quatro dias depois de ter pedido demissão da Casa Civil, Erenice Guerra mantém cargos no conselho da Eletrobras, da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e também no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – órgão que está na raiz do esquema de “lobby” e tráfico de influência montado por Israel Guerra que motivou a queda da ex-ministra.

Com salário de R$ 5.122 mensais para participar de uma reunião a cada três meses, Erenice Guerra ocupa uma das onze vagas no Conselho de Administração do BNDES, sob indicação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, comandado por Miguel Jorge.

Erenice fazia parte do Conselho Fiscal do BNDES desde abril de 2008. No dia 13 de maio último, o Diário Oficial informou a exoneração de Erenice desta vaga e a nomeação, no mesmo dia, para um conselho mais importante dentro do banco, o de Administração. Substituiu ali vaga deixada pela presidenciável petista Dilma Rousseff. O decreto é assinado pelo presidente Lula.

O BNDES está no centro das denúncias de tráfico de influência envolvendo a Casa Civil.

Segundo denúncia do consultor Rubnei Quícoli, representante da EDRB do Brasil Ltda, ao tentar um empréstimo de R$ 9 bilhões junto ao BNDES para um projeto de produção de energia eólica, foi encaminhado por um funcionário da Casa Civil a contratar a empresa Capital Assessoria e Consultoria. A empresa é cadastrada em nome de Saulo Guerra, também filho da ex-ministra.

Quícoli teria sido pressionado a pagar R$ 240 mil para viabilizar o empréstimo, que acabou não sendo efetivado, segundo ele, por não ter entregado o valor cobrado. Ainda segundo o consultor, um homem chamado Estevam seria a ponte entre a Casa Civil e o BNDES, e teria se identificado como filho do presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

Em nota, o BNDES disse “repudiar” as denúncias e informou que o empréstimo solicitado pela EDRB não foi liberado porque “o montante solicitado”, que seria de R$ 2,25 bilhões e não R$ 9 bilhões “era incompatível com o porte da referida empresa”.

Eletrobras

O esquema de lobby montado por Israel Guerra, filho da ex-ministra, também envolveria até patrocínio esportivo concedido pela Eletrobras. Segundo reportagem da revista Veja, a Eletrobras concedeu, em 2008, patrocínio de R$ 200 mil à Racing Corsini, equipe de motovelocidade do piloto Luiz Corsini, que afirma ter pago R$ 40 mil a Israel Guerra como “taxa de sucesso” do negócio.

Mesmo depois da demissão da Casa Civil, Erenice Guerra também aparece como conselheira de administração da Eletrobras e da Chesf, com gratificação de R$ 3,8 mil para participar de uma reunião mensal. Na Chesf, as reuniões também ocorrem mensalmente.

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Deu no Estadão / SP